Carta n. 7

A rua conta muitas histórias, e eu vejo todas elas pela minha janela. 
Já vi muitas mudanças, pessoas irem e virem. Já vi mudanças irem e virem, e junto com elas as pessoas, e a vida delas se ajustando a um novo ambiente, uma nova rotina, distância e nova fase.
Já vi animais de estimação chegarem e crescerem.
Já vi bebês sendo gestados, voltando no colo dos pais, crescendo e até entrando na vida escolar. 
Vi um bairro mudando e sendo valorizado. 
Alguns empreendimentos foram construídos, criados e o asfalto quebrado. Caos instalado.
Ônibus passando na porta de casa, campos sendo derrubados. E novas janelas se abrindo.
Durante a pandemia eu tinha duas TVs: 
uma ligada na energia e outra sempre aberta pro real.
Mesmo que a programação estivesse parada.
Hoje, o que vejo pela minha janela é o espírito do fim do ano: reformas e luzes.
As duas torres de apartamentos do outro lado da rua mostram a personalidade dos seus moradores.
Azul, amarelo, branco, vermelho. Luzes de led e tradicionais. E brilho.
Já senti o ambiente mais ventilado, mas as árvores foram sumindo desde 2016, consideravelmente.
Ouço e vejo os pássaros. Bem-te-vis e pombos.
"Vejo" (ouço) despertares e despertadores. Choros e risadas. Brigas, até.
O fluxo de uma rotina de segunda-feira, o céu nublado indicando e uma nova estação chegando.
O lixo sendo levado pra calçada. O carro do lixo passando.
As fofocas na escada da guarita, as manchas de cimento fresco na parede. As pessoas saindo pra viajar...
É incrível como existe tanta coisa que eu posso ver de perto, seja a felicidade ou a tristeza de alguém.
Qual o valor de uma janela? E quem não tem uma?
Talvez eu não tenha tanto a falar sobre vidro e aço, mas um dia isso não era nada.
Já tive várias janelas, já vi incontáveis cenários e pessoas que talvez nem saibam que eu existo.
Mas eu vi. Continuo vendo, e ainda vou ver bem mais.
Por onde eu for, sei que sempre haverá uma janela que me trará em sua vista:
A vida da forma que ela é.

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