Carta n. 20

Qual preço pagamos pelo nosso futuro? 
Eu não sei o quanto você já abdicou na vida pelo seu crescimento pessoal, por aprendizado, mas eu sei o que eu já paguei e com o que eu paguei. Com amor, inclusive. Ninguém mais é tão ingênuo pra saber que durante a vida, muitos amores passam por nós. Amores quentes, intensos, avassaladores, tranquilos, doces. Amores.
Posso aparentar ter um coração de pedra, mas eu já fui bem mais mole, principalmente quando o assunto era relacionamentos. Sinto que meu coração nasceu para amar e alguns conhecidos meus já ouviram uma frase que é costume meu falar: sinto que meu coração tem muito amor pra dar, mas não tenho ninguém. Hoje vou falar de um amor que tive a alguns anos atrás, que me fez pensar o quanto eu amadureci mentalmente e psicologicamente, marcando a minha vida de um jeito que não vou esquecer. Aproveitando as datas festivas, vou chamá-lo de Noel.
Nós nos conhecemos pela internet e ele era lindo. E beleza era só um detalhe, sempre foi gentil e atencioso comigo, apesar de eu não esticar muito assunto. A gente passou um tempo só conversando até sair pela primeira vez, e nosso primeiro encontro foi na praia. Foi muito legal, conversamos mais do que eu imaginava, e sei lá, eu senti que ele era alguém que facilmente ficaria na minha vida pra construir um futuro comigo. Mas pra todo caso assim, existem os contras, não é? 
Vamos lá então... nossa realidade era bem diferente: ele morava em bairro nobre da cidade, fazia faculdade de psicologia na Unifor, foi aquele filho que ganhou um carro quando ficou maior de idade e tinha amizades que também fugiam da minha realidade. Contudo, ele ainda estava ali, disponível pra mim, carinhoso, presente e com boas intenções. Sabendo dos prós e contras dele, vamos para a outra parte: Eu! Esse momento da minha vida, que conheci ele, estava desempregada. Ok que eu estava a procura de emprego ou bolsa na faculdade, vivendo com o seguro-desemprego, mas mesmo assim isso me deixava um pouco envergonhada e estar com ele dessa forma, me deixava meio incomodada, porque querendo ou não, eu tinha meus limites financeiros que não cabiam nos dele. Até o dia que ele me pediu em namoro... Isso mexeu muito comigo, por motivos óbvios.
Por um lado, eu estava adorando a ideia, pois estávamos sendo recíprocos e nossas vidas estavam nos proporcionando momentos muito bons e felizes. Mas por outro lado, eu estava focada na licenciatura, que praticamente acabara de entrar e queria me dedicar o máximo possível para me formar logo. Pouco depois, recebi a notícia que ganhei uma bolsa de iniciação à docência (a qual no ano seguinte me daria muitas oportunidades de me expandir na minha profissão) e eu me vi entre a cruz e a espada, porque com todo meu tratamento psicológico, eu sabia das minhas limitações quanto a me dedicar às minhas responsabilidades. Isso implicou em escolher entre me relacionar com Noel e cair de cabeça na faculdade e na bolsa.
Lembro que ele estava viajando pra um congresso de psicologia em SP, e eu já estava desanimada por saber que não poderia manter aquilo. Eu acabei com tudo quando ele voltou, mesmo que nós não tivéssemos tanto... Ainda nos encontramos outras vezes e sabe quando a gente sente que aquela pessoa é pra você? Mas que o momento não é propício pra isso, que você não vai conseguir retribuir na mesma medida? Infelizmente eu vi isso acontecer. Ainda pensei em voltar atrás, mas ele não quis mais conversa comigo, e não tiro a razão dele, porque eu também não gosto de pessoas indecisas. 
Eu cumpri com o propósito de me dedicar ao máximo no Pibid e até cheguei a falar isso em uma reunião de feedback individual com minha coordenadora e supervisor da escola. Quando enfim me despedi do programa e tive minha última reunião, vi que esse meu sacrifício valeu a pena. Ganhei elogios sobre melhorar minhas relações interpessoais, consegui um destaque significativo na minha formação acadêmica, na minha atuação no magistério, em uma escola pública renomada que me deixou laços e memórias incríveis. Mesmo que muitas vezes eu tenha falado sobre isso com lágrimas nos olhos, esse sacrifício valeu a pena. 
Se eu vou ter outra chance de viver o amor, como foi com o Noel, já é assunto pra outro capítulo da minha vida.

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