Carta n. 1
Eu rasguei a última carta que fiz pra você.
Eu sabia que você gostava das minhas cartas, mesmo que eu achasse brega escrever cartas de amor, então a guardei esperando o dia que nós nos encontrássemos, pra te entregar...
Você era o tipo de pessoa que me incentivava a ser quem eu era, o melhor que eu tinha em mim e que muitas vezes eu mesma debochava. Eu já tinha muita coisa bem resolvida na minha vida, os 30 anos não me foram um choque como imaginei que fossem (talvez porque antes dos 30 a crise veio fracionada kk), então quando você apareceu na minha vida foi tudo tão espontâneo que cheguei a duvidar que fosse ser tão bom.
E foi, enquanto foi.
Acho que te enchi de cartas, não quanto eu gostaria, mas do tanto que eu pude. Minha mente sempre foi meio perturbada, cheia de pensamentos misturados, ora positivos, ora negativos e no meio de tudo isso, eu pensava em você. Pensava em você, pensava na gente, tinha planos pro futuro assim como você tinha planos que me incluía também e não parecia nada tão utópico como das outras vezes que conheci alguém, porque você era uma pessoa positiva e eu sempre admirei isso em você. Uma pena que sua positividade não o penetrava, era de você pros outros, pra fora. Menos pra si.
Eu confesso que as vezes era difícil de te entender, assim como é difícil entender um mapa sem legendas... Imagine uma imagem preta e branca, e você não entender o que aqueles símbolos significam, não saber que rumo tomar se não tem um traço que me diga o que aquilo quer dizer. É como me jogar sem boia no meio do mar, sabendo que eu não sei nadar e ao mesmo tempo não tendo como consultar uma fonte que me diga por onde começar, por onde seguir.
Acho que a partir dali, minhas cartas foram perdendo o sentido. Nelas tinham tantas coisas que são minhas, tantos sentimentos, medos e afirmações, e eu percebi que não adiantava tanto escrever sobre como eu era grata por nós juntos se você não entendia como eu era, se não sabia o que o básico podia nos proporcionar. Mas principalmente, não sabia como você se abrir seria essencial para nós termos tornado reais e palpáveis tantos sonhos e planos.
No final das contas, nós nunca nos encontramos para eu te entregar aquela carta que fiz. E acho que rasgar ela foi o ritual de encerramento mais concreto em todos os relacionamentos que tive, para dizer que "acabou". Acabou sem choro, sem arrependimento, sem falta, sem saudade, sem esperança de volta, sem vontade de um último diálogo, sem questionamentos, sem vazio, sem dor. Completamente sem você.
Sem a gente. Sem nós dois.
Eu rasguei a última carta que fiz pra você e antes que isso acontecesse, eu não tive vontade nenhuma de ler o que tinha escrito ali. Foi ali que percebi que não existia mais nada entre nós. Nada.
A vida continua por aqui, sem perder o sentido. A bússola continua mostrando vários caminhos pra mim e em 1 semana virei o orgulho do meu psicólogo, do psiquiatra, dos colegas de trabalho, dos amigos. De mim mesma.
O amor que sobrou foi o que mais importa, meu amor próprio :)
Ameeeei ❤️🥹
ResponderExcluirJoice, você escreve tão bem! Ficou lindo!
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