Carta n. 17
Desde que recebi meu diagnóstico de transtorno de personalidade borderline, algumas coisas na minha vida não só tiveram uma justificativa mais exata como também ouvi muita conversa aleatória.
Sabe aquele ditado de "a Internet é uma terra sem lei"? As vezes eu percebo isso, principalmente quando ouço falar de transtornos mentais. A alguns meses atrás, ouvi de um "psiquiatra" em um vídeo, que os borders eram uma nova "raça" de psicopatas, os quais as pessoas deveriam evitar se relacionar, pois são dominadores e manipuladores. Acho que foi uma das maiores mentiras que já ouvi. Primeiro porque somos indivíduos que sentem intensamente e até mesmo em demasia. Sendo assim, como seríamos psicopatas, se eles não tem sentimento algum por alguém? A gente sente, e sente muito, talvez essa seja a maior de todas as características de um borderline.
Desse mesmo "psiquiatra", ouvi que os borderlines são extremamente sexuais, e que assim que as mulheres com esse transtorno tentam "aprisionar" seu/sua parceira(o). Outra mentira bem cabeluda, tendo em vista que por ter sentimentos tão intensos e medo do abandono (outra característica base do border), a pessoa se doa demais, a ponto de muitas vezes não perceber quando está saindo de si mesmo e se moldando à personalidade do outro, sendo submisso ao outro, transando porque o outro quer e até mesmo sendo abusad0, como eu mesma já fui...
É triste ver que a sociedade demorou tanto pra aceitar a depressão como a doença do século, e talvez demore ainda mais pra saber discernir o que é a personalidade da pessoa e o que é o transtorno que ela carrega. É doloroso também ler e ouvir conversas, relatos e reclamações de pessoas que já sofreram por preconceito e foram aproveitadas e sugadas pelas suas condições de saúde. Mas eu ouvi outra coisa, de um terapeuta, que faz total sentido.
Ele já começava falando que "ninguém se importa com seu transtorno". Já comecei a estranhar daí. Depois de 2 minutos entendi o intuito do vídeo. E tenho que concordar com ele. Depois que ele cita essa frase, começa a falar que os nossos pais só querem saber se a gente vai se virar bem depois que eles se forem; que talvez nosso namorado não vai aguentar a gente se a gente tiver sempre surtando e que as pessoas só pensam nelas mesmas. E sim, ele tem razão. Por esse motivo, a gente (border) tem que pensar na gente também! Porque como o nome mesmo diz, a gente tá sempre "à borda", sentindo muito, tentando agradar aos outros, com medo de não ser visto, não ser notado pelo que faz, pela eficiência ou bondade que praticamos. No final do vídeo, eu entendi e vi muito da Joice border ali, que no ano de 2024 ainda sofreu pra caramba tentando agradar pessoas, sendo incompreendida, procurando aceitação e reconhecimento da família, levando fora de caras que só olhavam pra si. A vida é sobre isso, é você por você, investindo sempre no que é bom pra você, sem pensar se o outro tá a favor ou não, se ele vai reconhecer ou não. É isso que eu vou tentar levar pro meu ano novo.
Deixo aqui abaixo o comentário que vi no vídeo do "ninguém se importa com seu transtorno" o qual fala o que realmente, nós borders, devemos fazer, mesmo que pareça difícil.
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