Carta n. 9

Certa vez, eu viajara para Recife. Passaria uns bons 6 dias de janeiro, tentando esquecer o peso das responsabilidades e ao mesmo tempo, sendo mais uma vez unicamente responsável pela minha paz.
No sábado que antecedeu minha partida, parecia que o céu sentia minha melancolia: não consegui sair do hostel, nem na calçada, chovia muito, como não havia sinalizado chover durante a semana toda. Aquele dia eu parei pra fazer o que não tinha feito o suficiente: contemplar ao meu redor o espaço em que eu estava.
Foi naquele momento que percebi que a incógnita de Recife tinha sua parcela na cultura pessoal de cada habitante da cidade. No hostel eu vi arte, música, cultura, culinária e mais um monte de idiomas reunidos. Vi a história da cidade sem sair de "casa", ouvi histórias, adotei os pets por algumas horas e mimei Ganga, o gatinho de um olho só. A alegria dos outros hóspedes me deixava com preguiça, mole, sem ação. Eu claramente estava deprimida. Dizem que o bom de viajar, é ter pra onde voltar, mas naquele momento eu me questionava a todo momento o porquê de estar morando em Fortaleza. 
Por alguns dias cogitei morar em Recife, fazer a mesma coisa que fiz quando vim para Fortaleza: juntar dinheiro e simplesmente mudar. Mas eu não sou mais aquela adolescente com ânsia de mudança. A idade chega e com ela, queremos estabilidade, mesmo que cheia de questionamentos difíceis. O domingo que se sucedeu também amanheceu nublado e eu, da mesma forma. As malas já arrumadas, almoço planejado e eu iria mais cedo para o aeroporto, pra ler e observar. Chegando lá eu li, mas pensei mais que qualquer coisa, no que eu tinha deixado em Fortaleza e logo logo iria encontrar.
"Será que a volta vai ser tranquila?", "será que a mala vai extraviar de novo?"... eram perguntas como essa que não saíam da minha mente. Esse foi o fim de semana mais estranho que eu vivi fora de casa, viajando à passeio. Crises existenciais não escolhem momento, mas como você lida com elas faz toda diferença. E essa me ensinou que um passeio é um passeio, viver onde você se diverte pode ser diferente e frustrante.
Por ora, prefiro Recife como refúgio mesmo.

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