Carta n. 6
Foi a primeira vez que voei. E jamais vou esquecer.
Foi por uma boa causa.
Ouvi "Learn to fly" do Foo Fighters, a trilha sonora era perfeita pro momento. Em Recife vi o Daniel Diau do Calcinha Preta, em Salvador foi corrido e quando cheguei em Porto Seguro, já sentia o cheiro de aventura além das conexões. Peguei uma balsa até Arraial D'Ajuda e depois, uma van pra Trancoso. Eu fui pra onde os famosos vão, só que por terra. E foi incrível poder sentir a mudança do clima, ver a alteração da paisagem de cima e de baixo, os sotaques mudando e eu cada vez mais longe da minha realidade.
Naquele semestre eu planejava ir à São Paulo ver o Foo Fighters tocar no I The Town, mas a Ticket não deixou eu comprar meu ingresso. Conversando com um amigo da época, ele sugeriu que eu fosse o visitar em Trancoso e eu aceitei. Eu precisava fugir de tanto caos. Eu estava fazendo exatamente o que queria fazer: meu projeto do Pibid estava se desenvolvendo bem, a turma era maravilhosa, as disciplinas na faculdade estavam até bem, mas o psicológico se sentia afetado. E quando ele não tá bem, me sinto pecando na vida, pra mim mesma.
Trancoso foi meu refúgio em meio a um 2023 muito cheio de compromissos e responsabilidades. Viajar pra longe também seria algo bem arriscado, porque meus planos eram outros, mas foi o melhor que pude fazer por mim. E era essa a boa causa da viagem: minha paz. O distrito é lindo e fofo demais, parece cidadezinha do interior e todo mundo lá é muito acolhedor. Sempre perguntam de onde a gente é (quando percebem que somos de fora) e em seguida, convidam pra ficar. Eles não querem deixar o distrito virar algo somente turístico e quando falei que era professora em formação, a excitação do "fique" aumentou.
Foram dias muito bons, experiências de andar de bicicleta por quase todo distrito, até mesmo na praia! A rua principal, almoço gostoso, a ponte de madeira, o quadrado e a igrejinha. Banho de mar, água de coco, tapioca recheada e filmes de terror. Sol, frio e chuva. E chocolates.
A volta pra casa foi ainda mais legal: em uma conexão, acabei parando no RJ e encontrei pessoalmente a Jade, minha amiga de Orkut. São praticamente 18 anos de amizade, usamos colete milwaukee na mesma época; eu operei da coluna em 2014 e ela ano passado. Ela já "vivenciou" muita coisa comigo, e eu com ela, mesmo que de longe. Trancoso pode ser pequeno, mas uniu muita coisa.
Aquela viagem era mesmo pra acontecer. Voltei pra Fortaleza com um aperto no peito, de que tudo estaria como eu deixei, mas dentro de mim nada estava igual. Lembro que no mirante de Trancoso, perto do quadrado, deixei uma fitinha do Senhor do Bonfim amarrada com um pedido, que sei que vai se realizar. Tenho fé. Talvez se não fosse acreditar no inacreditável, eu nem teria voado.
E eu nasci pra voar.
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