Carta n. 22
Ontem foi domingo. E acho que eu não sou a única que sente um clima depressivo quando chega a metade desse dia.
Domingos me lembram que quando eu era criança, esse dia era bem mais feliz. Todo mês tinha algum domingo que eu e minha família iamos para a zona rural, pra casa de algum familiar da minha mãe ou amigos dos meus pais. A gente ia na caçamba do carro o caminho todo, vendo aquela paisagem vezes seca, vezes verde, dependendo da época do ano. A estrada de terra batida, fazendo poeira e as marcas de veia que a chuva deixou, ondulando o caminho e balançando o carro, causando emoção. Chegando na casa, a gente brincava de bola, andava de bicicleta no meio do sol quente, ia pra casa de farinha e a hora do almoço era perfeita. Sempre muita fartura, apesar da família ser humilde, não faltava aquela farofa e não tinha essa de almoçar as 13h, porque essa hora era a hora de descansar.
Depois do almoço a gente deitava na rede ou no chão. Apesar do calor, ventava melhor a tarde e era tudo mais calmo. Dava pra olhar pro céu, apareciam umas nuvens brancas que caminhavam calmamente por aquele azul infinito. Tinha uma árvore no meio do terreiro e os galhos até balançavam e o cachorro deitado ao pé do tronco, erguia o pescoço assustado. Quando chegava umas 15h, a gente ia revesar com a bicicleta que tinha em casa, aproveitando o restinho de tempo que ainda tinha ali naquela calmaria. Se a casa tinha curral, a gente ia lá dar uma olhada nas vacas e correr atrás das galinhas que tinham pelo caminho, até chegar a hora de subir no carro e pegar a estrada de volta pra casa.
As tardes eram sempre mais recheadas. Se tivesse milho maduro, tinha milho cozido, pamonha e canjica pra levar pra casa. Se tivesse macaxeira, tinha que ralar pra fazer farinha no comecinho da noite. Se tivesse caju, era feito doce e também tinha queijo pronto pra levar pra cidade. Já em casa, não tinha muito o que pensar, só cansaço e satisfação de um domingo bem vivido, de uma tarde com mais memórias pra lembrar. Eu não sabia que um dia eu lembraria de uma tarde feliz de domingo. Mas que bom que sim.
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