Carta n. 13
Sinto saudades da minha avó materna.
As memórias da minha infância são muitas: da escola, da vizinhança, das viagens à zona rural, farinhadas, reuniões de família na fazenda, brincar de boneca e correr com uma bola por ai. Mas uma coisa que não esqueço,, foi o tempo de convivência que tive com minha avó Iraci, mãe da minha mãe.
Como no desenho do Irmão do Jorel, tem sempre uma avó que é mais carinhosa e cuidadosa com os netos, e a vó Cidô era essa vó.
Das muitas memórias que vivenciei com ela, lembro dos almoços de domingo reunidos em família, de ganhar alfinim de sobremesa e todo mundo sentado em frente a TV no final da tarde desse mesmo domingo, esperando o sorteio da telesena que a vó costumava comprar. Outra lembrança bem marcante é a que eu queria sair de casa e acabei parando na casa dela...
Toda criança que eu conheço, em algum momento da vida, já disse que queria ir embora de casa ou fugir. Nisso eu me encaixei, mas ao meu modo. Lembro que eu estava arrumando minha bolsinha com um pente, uma roupa e minha almofada preferida e disse pra minha mãe que ia fugir de casa. Ela prontamente se abaixou e me perguntou "você quer ir lá pra sua avó?" E eu disse que sim. Sempre me sentia bem com a vó Cidô e nunca entendi bem o que fazia me sentir tão bem com ela. Só sei que ela me recebia sempre com o maior carinho do mundo, e isso era por igual entre os netos. Um coração grande, generoso, e cheio de mistérios.
Alguns anos atrás minha mãe disse que minha avó era ligada ao espiritismo, mesmo que fosse católica. Dizia que ela tinha se descoberto médium, mas acabou não desenvolvendo por falta de oportunidades. Depois disso, comecei a escrever cartas pra ela, como se fossem enviadas pra ela mesmo, sabe? Mas as cartas não saiam do caderno... dali eu pude descobrir muito de mim, em cada carta que escrevi: fé, confiança, paciência e até indo no mesmo caminho que ela, mesmo que ela não tenha se encaixado com alguma coisa.
Eu lamento muito ela não ter vivido tanto pra ver o destino dos netos, ter bisnetos e me ensinar as várias coisas das experiências que eu apanho pra aprender. Fotos da nossa formatura, nossos dogs, a saudade por ter ido embora da cidade natal, as perspectivas do futuro...
E pra vencer qualquer conquista junto comigo.
Obrigada por ter tornado essa vida um pouco mais colorida, vó. A gente se encontra nos sonhos.
Obrigada por ter tornado essa vida um pouco mais colorida, vó. A gente se encontra nos sonhos.
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